segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Aprendizado de pequena mulher

No caminho do restaurante em que almoço, há uma pequena loja de roupas de senhoras. As vendedoras batem papo com as vizinhas de avental e pano de prato no ombro na calçada, enquanto um cachorro preto se enrola em suas pernas, ao sol. Os manequins usam perucas tortas e os manequins infatis são bonecas tradicionais. De fora, nota-se uma (des)organização de roupas em estantes e cabides espalhados inexistentes nos comércios assépticos atuais.

Toda vez que passo em frente, inevitável a vontade de entrar e retomar um tempo quando ia às lojinhas de bairro, com minhas mãos minúsculas e gordinhas agarradas às da minha avó. E ficava horas ganhando balas, enquanto a conversa fiava em problemas femininos insolúveis. O pó da rua a se sobrepor à faxina diária, o preço do leite, a banca da feira que não tem mais qualidade, o marido da comadre que bebe e o tecido mais adequado para a blusa das missas dominicais.

Ouvia certa de que aquilo me prepararia para meu futuro como mulher. E anotava mentalmente soluções. Entretanto, hoje, a faxina apenas pago e lamento o poder de destruição em massa da faxineira. Não tomo leite. Vou ao supermercado altas horas da noite e dou-me por feliz em achar alguma verdura. Marido quem tem dá graças a Deus e fica quieta. Missa nem de sétimo dia. E daquelas conversas, que julgava úteis, só restou desejo de encontrar, entre as prateleiras entulhadas da lojinha dos meus dias, um tempo que sirva para mim. Como se eu pudesse ser uma daquelas mulheres, tão senhoras de seus mundos, armadas somente com seus panos de prato no ombro.

3 comentários:

  1. Bom viajar no tempo, né Juju? lembrei da loja de tecidos da família, avó vestida igual a tia e com seus panos acebolados.
    Prefiro a brisa do cabelo molhado da mulher conturbada de hoje. hehehehe
    Por falar nisso a barbie love me tender me perdoou.
    Ufa

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  2. Que lindo o teu post!
    Adoreiii, passarei sempre aqui.
    Bjs

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