segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

À francesa para 2015



Saindo à francesa de 2014, para evitar que ele me segure um pouco mais com suas complicações e perrengues. Ano pouco arejado, com péssima localização, sem vista panorâmica, meses mal distribuídos, espaço de lazer restrito e sol batendo muito pouco. Mas fica a crença no potencial de 2015, ou vamos ter que quebrar tudo e reformar o ano.

Caminhão de mudança carregado rumo à 2015. A gente se vê por lá.





Minha mãe de vez em quando me pede para escrever algo bem bonito para ler em algum evento familiar. Mas meus textos nunca saem sob encomenda. Então, sempre a frustro por não escrever para emocionar a família no momento do brinde do Natal.

Eu tentei. Mas acho que o texto acima não faria a alegria da minha família festiva e ultra chapada na virada do ano. Se fosse fácil assim, teria seguido a carreira de jornalismo. Eu só escrevo um mísero blog, mamis.



sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Tô voltando

Eu podia estar roubando, bebendo, me divertindo, malhando para tentar ficar gostosa, mas passei um ano e meio estudando gestão financeira. Coitada! Ontem eu fiz a última prova da minha renomada (nem tanto) pós-graduação.

Foram muitas contas refeitas na minha HP12C por que meus dedos gordos sequer acertavam as teclas. Para quem errava em regra de três, já pago de gatinha sacando minha calculadora para calcular o retorno do investimento (mentira, calculo coisas bem mais básicas).

E como se tivesse passado um tempo buscando água em Marte (exagerada), põe meia dúzia de Brahma pra gelar, que eu tô voltando para vida!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Curto circuito

Posso dizer que já não te espero para trocar o soquete da lâmpada que está em curto. Por que dessa língua não entendo, só entendo a minha vontade de quase te fazer necessário. Mas o telefone do faz-tudo está na pendurado na porta da geladeira.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Cova coletiva

Toda vez que alguém escreve mais invés de mas uma fada morre. Se for em e-mail para diretoria, o homicídio tem agravante.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O ego, as mãos e a vida

Por que ambas as mãos estão unidas, a mão esquerda não golpeia a direita para vingar-se quando a direita erra o prego e golpeia a mão esquerda que segurava o prego. Por sua vez, a mão direita cuida da esquerda machucada e não lhe exige recompensa futura. Segundo ensinamentos do mestre Thich Nhat Hanh, isso só é possível por que ambas as mãos não se discriminam.

É só a mente que discrimina a mão direita da esquerda como partes separadas de um todo. É ela também que pode confundir uma mancha na parede com uma aranha e me causar um medo tão real como se fosse realmente um animal na parede. E entre confusões e medos (que sempre podem ser questionados o quão reais são), o que eu penso do mundo me faz sofrer o tempo todo se não usar sabedoria.

O envelhecimento, as doenças, as mortes são partes da natureza da vida. Mas nossa mente apegada às nossas experiências de bem-estar e felicidade está sempre nos causando sofrimento quando algum desses "problemas" nos visita. É ela que discrimina eventos naturais como fontes de sofrimento.
 
Metendo os pés pelas mãos
 
Para amadurecer a nossa sabedoria e nos proteger do sofrimento precisamos olhar essas experiências de frente e aprender com elas. E assim, pode ser mais leve o dia a dia de quem envelhece, adoece, perde, se desaponta, ou seja, todos nós. Por que se a natureza humana em si é causa de sofrimento, só vou encontrar a minha felicidade quando dominar a minha paz mental.

"Nossa motivação para o processo de transformação vai crescer na medida em que desistirmos da operação usual de sustentar a energia manobrando condições externas, por meio de identidades, bolhas e jogos sutis que tentamos ganhar. Precisamos observar, de novo e de novo, como isso nunca funciona. Em nós e nos outros. O tamanho do buraco é muito maior do que imaginamos. Para qualquer que seja sua busca de felicidade condicionada, guarde esse mantra no coração: não… vai… dar… certo… não… vai… dar… certo… não… vai… dar… certo…". Esse trecho do texto do Gustavo Gitti traduz o fracasso a que estamos fadados ao apostarmos todas as fichas no mundo exterior.
 
Dando a mão à palmatória
 
É duro admitir mas meu crescimento interior certamente mais floresceu em momentos de grandes crises: fracasso nos relacionamentos, dificuldades profissionais e financeiras, perdas, mortes e agora a doença da minha mãe, certamente, uma das pessoas mais importantes na minha vida. Com ela, estou encarando os maiores medos como a perda, o sofrimento de quem se ama, a transformação dolorosa do seu corpo, a solidão. E meu sofrimento por ela, também em parte é o sofrimento por mim que também estou sujeita às mesmas dificuldades que ela vem atravessando com muita sabedoria.

Se não vai pelo amor, vai pela dor, diz o ditado. Pela dor, lado a lado com o amor, finalmente estou aceitando que não vai dar certo do jeito que eu queria. E estou livre para repetir outro mantra: não brigue com a vida, apenas lide com ela. Como a mão esquerda que não castiga a direita quando ela lhe causa problemas, quero apenas dar as mãos aos meus problemas e conduzi-los da maneira mais amorosa possível, olhando-os nos olhos e aprendendo o máximo que puder aprender.



sábado, 6 de dezembro de 2014

Carta para a mãe da gente que fica doente

Mãe,

Enquanto a gente raspava os seus cabelos, lembrei daqueles dias, em que sentada na tampa fechada da privada, aguardava impacientemente você me aprontar para mais uma festinha da escola. Eu  ficava meio japonesa de tão puxados os cabelos num coque perfeitamente centralizado, que você ficava horas aplainando. E depois a maquiagem. Quando vejo as fotos da época, sempre me acho a cara do Ney Matogrosso, no Secos e Molhados. Não podia ser melhor.

Era um tempo muito bom. Com meu capacete de aço de laquê, era como se a vida tivesse a garantia que nenhum fio sairia do lugar. E se dependesse da sua base de gel Bozzano (nunca vou esquecer aquele cheiro) e dos jatos poderosos de laquê, nada nunca daria errado mesmo. Mas a vida não é a festa de final do ano do ballet da tia Paula Castro.

Um dia vem a perda, a mudança, nos outros vem a morte, e agora veio a sua doença. Te tirou os cabelos, mas não tirou a beleza, te tirou um pedaço, mas te deixou ainda mais inteira. Confesso que me tirou os papéis, eu sempre fui cuidada, e hoje, percebo que não sei como cuidar de você. E nem de mim, sem você. Eu tento apenas ser menos atrapalhada e te dizer as melhores coisas.

Hoje, só quero dizer que tudo vai dar certo. Logo, iremos rir de tudo isso. Será uma história de vitória contra um câncer. De um grande susto, de mais uma mudança repentina. Será mais uma das nossas histórias, em que, no final, todos acabam transformados, mas bem.

Estou aprendendo finalmente a lidar com a vida, e não mais brigar com ela. Tive muito medo de te perder e agora só posso agradecer que você vai ficar curada. Dessa forma, estou aprendendo a ser mais paciente, ser feliz. E finalmente, estou tentando ser resiliente, como os seus coques que, por mais que eu virasse de ponta-cabeça, sempre voltavam para o lugar, acredito que tudo vai ser como sempre foi: juntas, saudáveis e felizes.

Beijo,
Juju Balangandan

domingo, 26 de outubro de 2014

Meu não-lugar

Estou num momento bem tenso de vida profissional e pessoal. Eu deixo que essas oscilações momentâneas me tornem uma pessoa chatérrima. No trabalho e na família, ao invés de oferecer o melhor de mim para inspirar as pessoas que comigo também estão atravessando as dificuldades, comecei uma cobrança sistemática e dura que tem se mostrado nada efetiva. Tomei o caminho mais habitualmente tomado por chefes ou irmãs mais velhas. Acreditando na ilusão de botar o mundo ao meu jeito com meia dúzia de regras, metas e ordens.

Crenças inspiram e movem pessoas. Os verdadeiros líderes são porta-vozes de crenças. Entretanto, nesse processo de me tornar uma monstrinha tirana, estou desgastada e perdi o foco no que justamente acredito, ajudar as pessoas a interagir de forma colaborativa para que todos objetivos fiquem mais leves de serem alcançados.

Agindo tão mal, eu me sinto num grande não-lugar, como se estivesse numa enorme sala de espera, sem interagir de verdade com ninguém, folheando revistas sem interesse, apenas aguardando ansiosa que o tempo passe e as dificuldades terminem. É vergonhoso, eu sei! Junto com o tempo e as dificuldades a vida passa também, sem significado.

As crises na empresa, doença na família deveriam ser apenas oportunidade para treinar uma mente tranquila e paciente. Afinal, só a mente apaziguada alcança, segundo Buda, o desejo de todos os homens: ser feliz e parar de sofrer (e perder 5 quilos, eu acrescentaria).

Ainda preciso de muitas lições para avançar na riqueza dos ensinamentos da vida e torcer para não ficar de dp para a próxima encarnação.

domingo, 21 de setembro de 2014

Em ponto cruz, bordei colorido nessa tristeza que hoje só me faz cansar. Desenhei os nomes de todos que amo e não posso amparar. Esse pano de limpar sofrimento, lancei pela janela para que flanasse no alto de nossas cabeças.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Portando a vergonha alheia

Você parece ter o número de senha 10.000.345.567 e a fila não sai da senha 23. O pai e a filha adolescente sentam do seu lado na loja de celular. Assunto vai, assunto vem, o pai resolve descrever os canais de sexo que ele assina na sua TV a cabo. Por que? Por que?

Sinto as minhas bochechas queimarem! E tenho a certeza que o bom senso da humanidade pediu portabilidade para outro planeta.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Sociedade de pessoas mortas

O suicídio de pessoas de tanto talento sempre me faz dar dois passos para trás para refletir em perspectiva os estreitos caminhos que beiram os nossos abismos pessoais. Espreitar o profundo poço de cada um de nós é encarar a fragilidade de quem se equilibra no fio do cotidiano.

Adeus, Robin Williams! Encontre a paz.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Para vidas de pastel de vento

Nos últimos meses, eu me pego reclamando mais que o usual. Tendo insônias mais que o suportável. E me zangando desavergonhadamente comigo e com todo o mundo. Em algum momento, deixei escapar a válvula que controla essas sensações perturbadoras, a raiva, a ansiedade, o medo - as delusões como os budistas preferem chamar. 

Não é fácil apontar quando esse maremoto de resmungos tomou conta do laguinho das minhas emoções. Mas o fato é que é preciso esforço grande para aquietar as ondas que perturbam qualquer possibilidade de clareza mental. 


O emissário de esgoto mental uma vez aberto contamina outros pensamentos e ações. São pequenas violências de corpo, fala e mente repetidas à exaustão para ferir os outros e, principalmente, ferir a mim mesma. Tudo parece pior do que realmente é, as palavras são mais irônicas e insidiosas do que deveriam e me coloco em situações que só aumentam minha inquietação.



É tudo uma questão de familiaridade. E a nossa sociedade nos familiariza com a eterna insatisfação através de padrões de vida e consumo exigentes, relacionamentos superficiais e efêmeros em que as soluções de conflitos em geral são violentas.

E não tem chocolate, roupa, viagem, Tinder, TV a cabo com 100 canais, balada que fechem esse enorme buraco cavado pelo egoísmo: eu quero, eu preciso, eu sofro, eu estou farta, eu não aguento mais. OK, falo por mim! A dona dessa vida de pastel de vento, que murcha quando qualquer pedaço é tirado do lugar.

Em um dos textos do seu blog, a Monja Cohen faz um questionamento. "Será que estamos conscientemente vivendo nossas vidas e direcionando nossos pensamentos, ações e palavras para o sentido de mudança que queremos e sonhamos? Mahatma Gandhi disse: "Temos de ser a transformação que queremos no mundo"".

Definitivamente, eu tenho direcionado minha mente e meu mundo para um cenário obscuro. As justificativas são o stress, muito trabalho, a última separação, estudar para prova de derivativos, a Copa do mundo, a auditoria na empresa. Sobram desculpas, não resta nenhuma atitude, aparecem as consequências. Uma vida insuportavelmente chata. Duro admitir.

O que realmente funciona para mudar isso? Talvez olhar mais para dentro. Estar mais no presente. Ser menos ansiosa com o que vai acontecer, não sofrer com o que aconteceu. E principalmente ser mais generosa, grata e compassiva, comigo e com o mundo.
"Estudar o Caminho de Buda é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo. Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por tudo que existe. Transcender corpo e mente seu e dos outros. Nenhum traço de iluminação permanece e a Iluminação é colocada à disposição de todos os seres." (Mestre Zen Eihei Dogen - 1200-1253). Que eu possa esquecer um pouco de mim mesma, e me deixar iluminar por esse mundo bonito que me rodeia.

Texto da Monja Cohen: aqui


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Audições de vô Acácio

Saudade é quando a gente não sabe se lembra ou se inventa. E é com saudades que lembro que foram em sábados compridos ou dias de férias ensolaradas que eu aprendi a me apaixonar pelo samba. Eu e meu avô sentados nas cadeiras de praia espalhadas na varanda da chácara.  Vendo o sol se alaranjar no poente, ouvindo Jair Rodrigues cantando samba canção. 

Num desses dias, também comecei a sofrer com o samba. O telefone interrompeu a audiência de serestas com a notícia que meu tio-avô morreu. Depois disso, naquela tarde, não teve piada, meu avô não contou história repetida, não deu risada, não me puxou os pêlos do braço chamando de neta de um burro. 

Com os olhinhos cheios d´água é que meu avô acabou de ouvir a fita cassete do Jair, no radinho Panasonic. Relembrou uma ou duas histórias do irmão recém-falecido e foi se deitar mais cedo em quietude enlutada. Foi novidade assustadora para mim. Ainda bem criança, assisti ali paralisada nascer uma saudade daquelas mais doloridas que só a morte consegue criar.

E assim como a saudade inventa essas tardes, inventa outras nostalgias bonitas, quando escuto  Jair Rodrigues, Cartola, Nelson Cavaquinho e tantos outros sambistas. É tanta coisa que a saudade inventa, enfeita, mistura da vida da gente - amigos, gente que se foi, momentos, amores, alegrias - que chego não me importar que doa tanto. 

Para sentir saudade é preciso ter coragem. Para ouvir um samba é preciso lembrar de você meu avô que me ensinou essas enormes saudades que eu sinto hoje.


Para vô Acácio, essa música que fala de um cara incrível como ele. Mais que sua neta, eu para sempre vou ficar sua fã:

Naquela mesa
Sergio Bittencourt

Naquela mesa ele sentava sempre 
E me dizia sempre o que é viver melhor 
Naquela mesa ele contava histórias 
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor 
Naquela mesa ele juntava gente 
E contava contente o que fez de manhã 
E nos seus olhos era tanto brilho 
Que mais que seu filho 
Eu fiquei seu fã 
Eu não sabia que doía tanto 
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim 
Se eu soubesse o quanto dói a vida 
Essa dor tão doída, não doía assim 
Agora resta uma mesa na sala 
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim 
Naquela mesa ta faltando ele 
E a saudade dele ta doendo em mim 
Naquela mesa ta faltando ele 

E a saudade dele ta doendo em mim 


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Aula de artes

Soucacosencaixados

Mosaicodefelicidade

O que não

encaixa      des  

                   car           

                      t  o  

domingo, 29 de junho de 2014

Insinuação

“Há situações, é claro, que te deixam absolutamente sem palavras. Tudo o que você pode fazer é insinuar. As palavras, também, não podem fazer mais do que apenas evocar as coisas. É aí que vem a dança.” 

Pina Bausch

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Tanto quanto

Você corre tanto e nunca tem tempo. Fala tanto o que pensa e se sente idiota. Faz tanta dieta e não entra na calça. Sente tanta saudade mas não telefona. Pensa tantas coisas que não realiza. Gosta tanto mas não demonstra. Coleciona tantas receitas mas não cozinha. É tanta coisa que a vida fica um tanto pequena.


Tanto querer é ser feliz quanto? 


Tanto quanto ser feliz é querer menos.


terça-feira, 24 de junho de 2014

Por menos memória

"No meu pla­neta natal não há muito a dizer, a memó­ria é coisa curta, a con­versa directa ao assunto e, tal­vez por isso, os habi­tan­tes andam quase sem­pre sor­ri­den­tes e pouco zan­ga­dos. Nada, ou quase nada, lhes lem­bra tris­teza por­que não se lem­bram de quase nada; e por­que não dei­xam que as pou­cas pala­vras que usam (por sabe­rem pou­cas) lhes enre­dem os pen­sa­men­tos em para­do­xos e con­tra­di­ções; a maior parte deles, dos pen­sa­men­tos, não são gran­des e sole­nes, como os dos super-homens e mulhe­res daqui, são antes peque­ni­nos pen­sa­men­tos e por isso pen­sa­men­tos muito livres e feli­zes.
Mas a grande dife­rença entre este pla­neta e o meu pla­neta natal é a memó­ria. Os habi­tan­tes do meu pla­neta natal têm pouca memó­ria. Quiçá por serem menos pro­li­xos, por terem menos léxico, no meu pla­neta natal cita-se pouco. A memó­ria, coisa a que nada escapa, é outro dos super­po­de­res deste pla­neta. No meu há menos memó­ria, inventa-se mais. Inventam-se vidas, his­tó­rias, pas­sa­dos. É um pla­neta onde não há His­tó­ria, só há fic­ção. Todos os dias a His­tó­ria é dife­rente, rein­ven­tada".


Do Escrever é triste de Rakan Ben Zolof 25, codinome Pedro Bidarra

domingo, 15 de junho de 2014

A sós

Preciso de tempos em tempos ficar só. Não proferir palavra para ouvir minha voz. Não me olhar no espelho para saber como sou. Não tentar ser nada para sentir quem sou. Não buscar e achar. Não olhar e enxergar. E me segurar para não gritar: meu deus, eu sou uma fraude.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Era tão bonito andar na cidade de São-Pau-lo

A tênue linha que separa o caos do caos às vezes entorta. Minha pobre São Paulo. Nunca pensei que um dia quisesse te deixar. Mas seus cidadãos deram lugar à uma horda de sobreviventes.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Guarda-sonhos



Como aquele guarda chuva lindo que você investe e jura que vai tomar cuidado, assim são os sonhos. Eles simplesmente se perdem.

Reforçados ou sombrinhas chinesas  adquiridas aos montes, guarda chuvas e sonhos devem ter uma realidade própria onde convivem, depois que desaparecem, juntamente com os isqueiros. 

Você até tenta sobreviver um bom tempo sem eles. Mas acaba vencido pelas tempestades.  Sobra sempre aquele guarda chuva estropiado, todo remendado. É ele quem vai te abrigar. Por que guarda chuva e sonho é que te escolhem. Ou você aprende a gostar da chuva*.

* Linda observação da Lu que anda sempre com Borboletas nos Olhos

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Salva vida

Estava se afogando nas palavras, quando finalmente uma frase a puxou pelo braço. Do fundo do seu silêncio, aspirou o vento gelado de uma folha branca.

Agarrou-se em exclamações e travessões, evitando as interrogações que afundavam. Flutuou até a orla de tudo o que não havia dito.

Largou-se sob o sol quente de parágrafos ordenados. Vomitou todas aquelas palavras que lhe sufocavam.

Sobrevive, sem a ajuda de ansiolíticos. Passa bem, ela acredita que um dia ainda vai acreditar nisso.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

37 razões

São 37 motivos de desamor, listados num papel amarrotado, em caligrafia triste de caneta azul.

Revisados para que nenhuma de suas falhas perdoasse a minha saudade.

De cor, ação para te tirar do coração. Por que desamor é engenharia, enquanto amor é decoração.

Quase 4 dezenas de razões para me esquecer que não precisei de um motivo sequer para um dia amar você.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Píramo e Tisbe

- Não, não tenho nenhuma sorte nesse negócio de amor.

- E eu, tenho o dedo tão podre para relacionamentos, que não adianta lavar, tem que arrancar mesmo - rebati.

Imediatamente, uma muralha de medos e frustrações cresceu sobre a mesa, segregando qualquer chance de felicidade. Cada um do seu lado, sorvendo golinhos de chocolate quente polvilhado de cinismo bem humorado.

Silêncios prolongados num fim de domingo gelado.

E as amoreiras não se tingiram de vermelho.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Plural de lágrimas: Mil-agri-mas

há sim uma certa melancolia ao constatar 
que do capim verde e cheiroso de outrora
não se poderá mais provar,
mas não se há de negar a contrapartida
com que, de certa forma, nos compensa a vida
se o capim de hoje não é tão verde 
nem seu cheiro tão vigoroso,
não é menos valoroso, 
de meu paladar, mudaram as diretrizes
e em meu capim, que só me oferecia a verdura, 
com essa nova estrutura, 
encontro novas matizes.


Grã

Esse texto lindo é meu por que ganhei de presente! E presente, a gente nunca diz que não precisava. Pega logo e sai rasgando o papel. Por que ganhar presente é melhor coisa que existe, ainda mais cheio de palavra bonita.

Muito obrigada! Diretamente de o mundo de Grã.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Curral de lágrimas

Como um boi velho, cansado,

pacientemente a remoer,

que o capim verde, que come,

torna outra vez a comer,

hoje, velho, relembrando

minha alegre juventude,

tudo quanto já fruí,

como o boi, vou ruminando

o meu Passado saudoso,

que foi, em tempo ditoso,

o capim "verde" e cheiroso,

que quando moço, eu comi!

Mas, às vezes, a Saudade

acorda-me a Mocidade

com tanta exasperação,

que eu abro as duas porteiras

dos olhos, meu bom patrão,

e deixo que, atropelada,

saia, só numa arrancada,

toda a boiada das lágrimas

do curral do coração."

(Catulo da Paixão Cearense)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Bife de fígado mal passado

A delícia do prato está na mente e não no prato. E como já disse a propaganda, o melhor tempero, é o amor.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Quando ser abduzido, virou bom negócio

Sabe a cotação do dólar, mas não imagina o preço do feijão. Defende o porte de armas,  mas esculacha quem porta um baseado no bolso.

É moderninho, descolado, da balada, mas odeia gays e lésbicas. É negro e faz trabalho social,  mas não sai dos Jardins por que São Paulo é violento.

Reclama dos preços de carros blindados,  mas comemora quando a polícia mata seis no seu bairro. Defende linchamento de trombadinhas, mas ainda sonha com um mundo melhor para os seus filhos.

É a Marcha da Família Dando Ré e nos atropelando todos os dias. Além daquelas violências que pingam sangue no noticiário,  são as pequenas violências de uma cidade cada vez mais retrógrada.

Alguém apaga a luz que esse mundo está uma merda!  Volta e vamos recomeçar. Do começo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Compartindo as maluquices

Nunca encontrei definição tão boa para esse sentimento que me persegue desde criança: déficit de vivência. É a sensação de não estar vivendo na intensidade e quantidade suficiente o que a vida tem a oferecer.  E já foram muitas noites, desde criança, que acordei angustiada por achar que a vida estava passando ao largo de mim.

Fiquei feliz hoje por ler um pequeno depoimento de outra pessoa que expressou tão bem o que eu sinto. Sempre julguei esse nível de angústia maluco e solitário. Mas bom saber que não estou só.

Falta treinar para mudar essa régua exigente. Não há medida certa para a quantidade ou intensidade. Há idéias preconcebidas de como eu gostaria que fosse. Mas crescer é descobrir que querer não é poder, ou nesse caso, viver. Ao menos, já começo a desejar aceitar com alegria, embora o sono ainda por vezes vá embora.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Naufragiando

Nem sempre há tempo de seguir os fios que desatam os nós das minhas saudades. Enroscada no fundo das minhas lembranças, o ar que falta é a dor que afunda. Nas águas turvas dos pensamentos,  o peito murcha e a garganta fecha.
Continue a nadar. Continue a nadar. Quem ensinou, não importa. Impulso do fundo à superfície. Sorver novos sonhos e seguir adiante.
Não procuro a margem, apenas águas tranquilas que me deixem leve. E levemente leve para longe todos pesares.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Adeus meu docinho de goiaba

Não sei por que você gosta tanto de roupa preta. Ouvi minha avó, enquanto me olhava no espelho. E vi uma saudade ainda fresca por sua partida. E assim, um rosário de suas falas se repetiram na minha lembrança. Por que você não corta um pouquinho esse cabelo? Gosto de te ver de saltinho.

Vão as pessoas, ficam as palavras,  ecoando no vazio que elas deixaram um dia. Queria encontrar um jeito de arrumar tanta palavra querida. Dispor em vasos mesmo aquelas que racharam. E pendurar em bonitas molduras toda palavra que me foi cara.

Vó, suas palavras guardaria na cozinha. Docinhos de goiabinha, bolinhos de carne, minha casa, pãozinho com molho, xicarazinha de água de arroz, o Rafa era bonzinho, nêga, Daniel era triste, panelinha de ferro, gelinho de laranja, seu avô, minha neta.

Desculpe, vó,  se eu misturo suas palavras às tantas gulodices deliciosas que você fazia. Mas onde eu mais gosto de imaginar suas palavras são naquela sua cozinha minúscula debaixo da escada da sua casa.

Era a terceira cozinha que você fez o vô construir na casa. A menor de todas para não dar tanto trabalho de limpar. Cabiam no máximo duas pessoas. E ali naquele cubículo,  você era tão feliz. Reinando entre suas panelas.

Pena que um dia a vida te tirou do seu mundinho. Outras cozinhas e menos receitas. E você foi perdendo por esse mundão a alegria das palavras meladas e cheias de diminutivos.

Espero, onde quer que você esteja,  que retome a receita da sua felicidade. Mas que ela seja muito maior que qualquer espaço.

Seja muito feliz, não tenha medo, siga em frente! Eu te amo para todas as vidas.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A saudade mora com o diabo juntos nos detalhes.  Eles me chamaram para uma visita hoje, quando precisei tanto ter a quem chamar, no meio do dia, para reclamar um pouco e rir da vida.

A saudade me serviu café e o diabo me fiou dois dedos de prosa.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Morar sozinho, a solidão não mata.  Mata é não conseguir abrir o vidro de palmito. Ou cortar o dedo e esguichar sangue por toda casa, sem ninguém para procurar um band aid. Ou ter a maldita pia cheia de louca sem ter com quem discutir quem vai lavar. 

Do mais, é só um jeito de morar. Palavra de quem morou junto e foi solitário.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

exposta

Enquanto houver sangue e fratura exposta, todas as teorias de auto suficiencia humanas devem ser revistas.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Felicidade clandestina... domingo de manhã

 Acordar cedo sem despertador. E enrolar na cama, enquanto toda a casa se enche de sol. As crianças começando a brincar na quadra, enquanto um galo retardatário insiste em gritar que o dia começou.

Gosto de pão de queijo quente com requeijão escorrendo. Cheiro de café novo. Na televisão, programas de culinária de receitas que não serão colocadas em prática. E um desejo que estes momentos não terminem nunca.

Domingo de manhã é felicidade.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Separação é ficar cego de um olho e perder metade da forma de ver o mundo. Não ter mais aquela opinião, que tanto foi valorosa um dia, é ficar às escuras por algum tempo até que novas visões surjam. E recriminar repetidas vezes aquele pensamento automático do que será que o outro acharia, se ele gostaria.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Literalmente, força na peruca

O melhor de viajar é conhecer novos vagares, novos ares, novos pensares. Um conhecido careca me confessou que, quando esteve em Nova Iorque, finalmente, teve coragem de usar uma peruca esvoaçante pelas ruas. Adorou.

Vou para bem longe. Curiosa para descobrir quem serei eu nesse lugar. Quem serei eu quando eu voltar? Talvez não traga na mala uma peruca loira misteriosa, mas que possa, ao menos, deixar por lá um pouco desse enorme medo de quem eu sou.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Cheia de um vazio enorme. Quem me amou um dia só deixou desprezo para minha companhia.

O que fazer com tanto sentimento?