segunda-feira, 24 de março de 2014

Quando ser abduzido, virou bom negócio

Sabe a cotação do dólar, mas não imagina o preço do feijão. Defende o porte de armas,  mas esculacha quem porta um baseado no bolso.

É moderninho, descolado, da balada, mas odeia gays e lésbicas. É negro e faz trabalho social,  mas não sai dos Jardins por que São Paulo é violento.

Reclama dos preços de carros blindados,  mas comemora quando a polícia mata seis no seu bairro. Defende linchamento de trombadinhas, mas ainda sonha com um mundo melhor para os seus filhos.

É a Marcha da Família Dando Ré e nos atropelando todos os dias. Além daquelas violências que pingam sangue no noticiário,  são as pequenas violências de uma cidade cada vez mais retrógrada.

Alguém apaga a luz que esse mundo está uma merda!  Volta e vamos recomeçar. Do começo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Compartindo as maluquices

Nunca encontrei definição tão boa para esse sentimento que me persegue desde criança: déficit de vivência. É a sensação de não estar vivendo na intensidade e quantidade suficiente o que a vida tem a oferecer.  E já foram muitas noites, desde criança, que acordei angustiada por achar que a vida estava passando ao largo de mim.

Fiquei feliz hoje por ler um pequeno depoimento de outra pessoa que expressou tão bem o que eu sinto. Sempre julguei esse nível de angústia maluco e solitário. Mas bom saber que não estou só.

Falta treinar para mudar essa régua exigente. Não há medida certa para a quantidade ou intensidade. Há idéias preconcebidas de como eu gostaria que fosse. Mas crescer é descobrir que querer não é poder, ou nesse caso, viver. Ao menos, já começo a desejar aceitar com alegria, embora o sono ainda por vezes vá embora.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Naufragiando

Nem sempre há tempo de seguir os fios que desatam os nós das minhas saudades. Enroscada no fundo das minhas lembranças, o ar que falta é a dor que afunda. Nas águas turvas dos pensamentos,  o peito murcha e a garganta fecha.
Continue a nadar. Continue a nadar. Quem ensinou, não importa. Impulso do fundo à superfície. Sorver novos sonhos e seguir adiante.
Não procuro a margem, apenas águas tranquilas que me deixem leve. E levemente leve para longe todos pesares.