segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Teste de personalidade

Resultado do teste de personalidade: inconsistente. Tranquilizei a terapeuta quanto à eficiência do mecanismo. Minha incosistência está certificada e os meus impropérios têm selo de procedência.

Mas que me desculpem os psicólogos e todos os testes da revista Nova, Cláudia e afins. O melhor teste de personalidade ainda é perguntar para minha mãe quem eu sou, como estou. Ela nunca deixa nesga de dúvida.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Minha festa

A luz acendeu e a música voltou a tocar inesperadamente. Encontrei todos me sorrindo. Não sabia se esse momento chegaria. Mas sempre abri a porta ansiosa pelo o que me aguardava, até que o momento chegou. Voltar a ser feliz é festa surpresa. Você reúne a motivação e a vida ocupa-se da organização.

Em calma, aproveito essa festa silenciosa que vem acontecendo em mim. A felicidade como convidada, na cabeceira de mesa, patrocinando as contas e os débitos mais antigos. Guardei as feridas não cicatrizadas por baixo do vestido. Danço sozinha no meio da pista.

Não sou mais a que entrou pela porta desprevenida. Sou em paz, mesmo quando não estou em paz. Não tenho mais medo que isso acabe. Manter a música tocando é o meu treino espiritual.

O maestro é bom. É Buda. O melhor cara que conheci nos últimos tempos. Ele me ajuda a organizar essa balada todos os dias. E sorrir sempre.



Alguém adivinha quem está no surdão? Cacilds! 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Poeminha de mulher carambola



Nasci flor de pitanga em pé de amora
Cresci carambola
Amadureci colibri em casa de joão de barro
Fugi desse mundo bizarro
Virei águia riscando céu afora

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Zécutiva: CSI na firma

A última das crianças, pixações vexatórias, no banheiro masculino. E quando discute-se como pegar o danadinho, fico pensando porque a polícia científica não abre cursos para gestores corporativos. Certamente ia virar MBA.

Enquanto isso, São Grissom nos ilumine.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Felicidade clandestina: espreguiçando a delícia de viver

Sábado à tarde ensolarado, vizinho promove bailinho romântico. Molecada bate bola, cachorrada late. Joaninha invade a sala. Conversa anoitece em vinho gelado e amizade quentinha. Tão bom como espreguiçar a certeza de que viver é uma delícia. Tão simples como os minutinhos a mais que se enrola na cama pela manhã.




P.S.: Amo viver em um bairro que tem gente barulhenta, cachorros enlouquecidos, galos madrugadores, grilos encantadores, picnic de vizinhança na pracinha, festa na laje e vizinho que ouve Marvin Gaye no último volume, durante a faxina de todo sábado. Isso é Sampa, acredite!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Aceita-se corações arrebentados

Meu coração tem um ótimo delivery. Ele se entrega rapidamente. Uma eficiência de dar nojo. Hoje, foi devolvido todo quebrado, numa caixinha azul com bolinhas brancas junto a gérberas de mais lindas cores. Como só tenho um coração, peguei de volta o produto mesmo danificado. E finalmente aceitei, seremos amigos apenas.

Embora achando que já perdi a garantia, vou levar meu coração na oficina e já volto.  Alguém me empresta o colo enquanto eu colo meu coração? Por que tem hora que cansa ser forte.

"Eu uso óculos escuros
Pras minhas lágrimas esconder
E quando você vem para o meu lado
Ai, as lágrimas começam a correr

E eu sinto aquela coisa no peito
Eu sinto aquela grande confusão
Eu sei que eu sou um vampiro
Que nunca vai ter paz no coração..."

Vampiro

Jorge Mautner

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Encanamentos, furos e camisinhas

Prestadores de serviço, de olho nas desventuras das mulheres que vivem sozinhas, criaram o quebra-galho tipo marido de aluguel. Ele conserta torneira, pendura quadro, troca fechadura e não enche o saco porque não tem janta. Contratei o meu por uma seguradora, mas em dúvida com relação à eficiência. Se desse certo mesmo, o Papa já tinha condenado. Por que depois da camisinha, alguém para consertar o chuveiro, a instituição do matrimônio estaria definitivamente eliminada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Felicidade clandestina é amigo novo e poesia antiga

Amigos recentes, restaurante novo e causos frescos. Mas uma rodada de declamação de poesia antiga é o melhor batizado para amizade que quer vingar. E a noite termina com chá servido com bulé acima da cabeça do garçom, ao som de Cartola. Um espetáculo para deixar no chinelo até os chás de Alice no seu País das Maravilhas.

E eu sempre me safo com Pessoa...

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cirurgia bariátrica na alma

Uma pessoa querida comparou episódio vivido por ela, um coma prolongado, à dor de amor. As consequências são parecidas. A ausência temporária de sentidos, e depois a vida tem que ser resignificada, enquanto luta-se contra as seqüelas.

Essa conversa me fez perceber que há tempos saí do coma. Só que estreitei a alma para dificultar a embolia de novos sofrimentos. Mas o resultado é fome cujo nome é solidão. Sou como operado de estômago que lambe chocolate escondido para saciar as compulsões.

Carrego compulsões por questionamentos insolúveis, credulidades dolorosas, tristeza internitente e carência afetiva insaciável.  Mas sei que são sintomas do que sou e não do que me causaram. E não tendo mais para onde ir, decidi que era hora de chegar. 

Só é preciso terminar de desfazer as malas e decidir onde pendurar os quadros.  



p.s.: as sapatilhas de Dorothy são presente de uma menina linda que eu adoro! Viu, como ficaram fofoletes?
O texto espirrou de outro presente, um bate papo com a minha nova amiga mais monga.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Síndrome de picolé: sou um Tablito

Devia criar casca e aprender com os safanões da vida. Mas sou picolé. E quem nasce para palito não se enforma em casquinha. Derreto fácil. E escorro a cada pequena ou grande desilusão.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Zécutiva: não faça o que faço, obedeça se tiver juízo

Conhecer os intestinos do maior porto da América Latina é ter certeza que o Brasil não escoa sua mercadoria, escorre. Pelas pernas como um enorme desarranjo. O caos no trânsito, a falta de sinalização, a sujeira, a desordem lembram um faroeste cabloco mecanizado. Entretanto, quem quer ser fornecedor de estatais nacionais tem que comer muita grama para atender requisitos, normas, burocracias etc.

Ser fornecedor de empresa estatal brasileira é como ter pais doidões e ser mandado para colégio interno católico. Você convive com milhares de regras e requisitos, mas, quando vai para a casa, encontra a galera fumando, uma festa rolando, a geladeira vazia e todos os cômodos bagunçados.

É o moderníssimo modelo de gestão que já apregoava meu avôzinho: faça o que eu mando, não faça o que eu faço. Mas está tudo certo já que seguimos a máxima: manda quem pode, obedece quem tem juízo, ou conta para pagar.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Aprendizado de pequena mulher

No caminho do restaurante em que almoço, há uma pequena loja de roupas de senhoras. As vendedoras batem papo com as vizinhas de avental e pano de prato no ombro na calçada, enquanto um cachorro preto se enrola em suas pernas, ao sol. Os manequins usam perucas tortas e os manequins infatis são bonecas tradicionais. De fora, nota-se uma (des)organização de roupas em estantes e cabides espalhados inexistentes nos comércios assépticos atuais.

Toda vez que passo em frente, inevitável a vontade de entrar e retomar um tempo quando ia às lojinhas de bairro, com minhas mãos minúsculas e gordinhas agarradas às da minha avó. E ficava horas ganhando balas, enquanto a conversa fiava em problemas femininos insolúveis. O pó da rua a se sobrepor à faxina diária, o preço do leite, a banca da feira que não tem mais qualidade, o marido da comadre que bebe e o tecido mais adequado para a blusa das missas dominicais.

Ouvia certa de que aquilo me prepararia para meu futuro como mulher. E anotava mentalmente soluções. Entretanto, hoje, a faxina apenas pago e lamento o poder de destruição em massa da faxineira. Não tomo leite. Vou ao supermercado altas horas da noite e dou-me por feliz em achar alguma verdura. Marido quem tem dá graças a Deus e fica quieta. Missa nem de sétimo dia. E daquelas conversas, que julgava úteis, só restou desejo de encontrar, entre as prateleiras entulhadas da lojinha dos meus dias, um tempo que sirva para mim. Como se eu pudesse ser uma daquelas mulheres, tão senhoras de seus mundos, armadas somente com seus panos de prato no ombro.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Por Manoel pedaços de mim

"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
A inércia é o meu ato principal.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora".
Livro sobre o nada - Manoel de Barros


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Até amar o Corinthians é iluminação

Quem acha que a vida não é justa, certamente está desajustado. Os sete bilhões de habitantes desse planeta desejam a felicidade. Mas a maioria tenta reformar o mundo ao seu redor para satisfação dos desejos. O resultado é apenas caos, frustração, depressão.

Sofrimento e alegria não são castigo ou prêmio. São efeito do esforço de mudar-se internamente. Difícil aceitar, crianças mimadas que somos, chacoalhamos a máquina de doce do samsara e nunca alcançamos a guloseima desejada. Isso quando ela não engole suas moedas e te deixa com fome ou sede.

O caminho do meio é o equilíbrio entre a renúncia a todos esses sofrimentos e a compaixão. Aprender com os obstáculos, não se apegar às perdas e injustiças da máquinas de doces. E aprender a amar todos os seres vivos. "Quando eu amar os outros, a ponto de me desesperar, nunca mais sofrerei", ensina meu professor de meditação Gen Kelsang Odro. É forma de esvaziar nosso egoísmo e apego a esse eu que sofre, deseja, resmunga.

Fácil? De forma nenhuma. Espiritualmente, engatinhamos. Mas quer moleza? Torce para o São Paulo, como diria um tio meu, Como corintiana não praticante, começo a concordar com ele, mas mantenho-me fiel ao time que só nos dá crescimento espiritual, aceitando com alegria as seguidas derrotas. Timão é treino para iluminação! Libertação, mesmo sem Libertadores.

Palestra do meu prô Odro, queridíssimo!



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Zécutiva: Trabalhadores unidos aceitam cheque

Pedir R$ 2,00 para o porteiro para inteirar o táxi é melhor que qualquer atividade de integração hierárquica. E sorte que minha faxineira aceita cheque.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Poeminha para Dona Janaína

Por você seria marinheiro.
E toda barca de presente, espelho, flor e pente,
Era pouco para meus olhos altaneiros.
Que esses eu te dava como garantia
Para poder mirar seu mar todos os dias

Vambôra molhar os pézinhos no mar, que hoje é dia de Yemanjá.



Buda entende que com essa mulherada, Dona Janaína*, Cidinha* e Tarinha* ninguém pode. E lá em casa, a Babel é ecumênica e harmoniosa, e me garanto com quatro mães para me dengar.

(*Yemanjá, Nossa Senhora Aparecida e Tara Verde)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

É bom para o moral

Meu jardim semeei num canto de terra quase imprestável. Horas de palavras cultivadas com esmero de  relojoeiro, sem pretensão de frutos. Entretanto, suas flores me trouxeram apreciadores queridos. Hoje temo que um ponto final mal plantado, uma idéia murcha ou uma frase despetalada estrague a beleza da obra.

Mas, como criança apreensiva mostrando seu desenho novo, sou feliz a cada gesto de aprovação. Como diria Rita Cadillac, é bom para o moral. E eu nem precisei rebolar.

Daí aumenta a vontade de plantar uma floresta inteira. Vontade que já cheguei a pensar que nunca mais teria. Por fim, atendo um desejo enorme de agradecer quem estimulou e estimula minha vontade de reflorestar o planeta.

Obrigada!

E para os seguidores dessa terapia, uma dica de uso da dinda do enquadrados:

"Aproveite muito mais
Você sabe como faz
Você não vai pagar nenhuma taxa se usar


É bom para o moral
É bom para o moral
É bom para o moral
É bom bom, é bom bom

"Vu le", "vu le", dance dance
Para frente, para trás"

Aumenta o som aí...