quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

No meio do caminho, tinham umas pedras

Eu tinha muito pavor de fazer caminhadas em trilhas na natureza. Sentia uma gastura enorme de não conseguir chegar ao fim. Era medo de me cansar no meio do caminho, de me machucar, e descobrir que a jornada da volta seria tão longa quanto ao caminho que me levaria ao ponto final da trilha. Esse ponto de não ter como voltar atrás me desesperava. Ainda mais porque eu não conseguiria chamar o resgate, que me levaria de helicóptero direto ao Hospital Santa Catarina, no coração da avenida Paulista.

Assim fiz trilhas na serra da Bocaina, na serra do Mar - foram as maiores e mais espetaculares. Mas sempre com uma espécie de pânico que não me deixava gozar das paisagens, cachoeiras, cheiros e sons da empreitada. Na trilha de mais dias, na Bocaina, eu consegui tomar mais banhos nas paradas de pouso do que se estivesse na conforto da minha casa. Era a necessidade de estar limpa e penteada para encarar mais um dia embaixo de chuva, escorregando nas pedras enlameadas. Na serra do Mar, eu sempre fui a última, reclamando do cansaço para uma turma de velhinhos aposentados que nos acompanhava.

Mas o tempo me ensinou a aproveitar as trilhas. Aprendi a ter tranquilidade para curtir o caminho, mesmo estando ciente de todos os riscos e esforços a serem enfrentados. E cada pequena escalada, ralada no joelho e banhos de cachoeira tornaram-se grandes satisfações em encarar esses pequenos desafios.

Dessa forma, uma pessoa descoordenada como eu pode seguir adiante por trilhas acidentadas aproveitando cada pequena superação. Não, eu não vou escalar o Everest para entender melhor o sentido dos desafios da vida. Já está de bom tamanho esse micro aprendizado das minhas pequenas aventuras aliada à minha grande habilidade de trupicar nas menores e maiores pedras do caminho.

E assim, trilhemos.



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