domingo, 30 de junho de 2013

Completa alma

Gosto da calma da casa, quando toda a cidade parece dormir. Minha janela enquadra o mundo. Nela vejo tudo. O silêncio inteira a parte de mim ausente quando alerta.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Na lona

Como achar o caminho do meio, se o acostamento parece tão mais confortável que a pista sinuosa? Hoje me perguntaram se eu continuo frequentando a meditação budista para lidar com tanta gente e tanto problema, no trabalho.

Estou mais para o boxe transcendental, com uns letreiros luminosos para evitar golpes muito baixos ao longo dos rounds. E sempre escapa algo abaixo da cintura.

Agora eu tenho bruxismo. Toda vez que falo isso, parece que uma verruga vai explodir no meu nariz e uma vassoura vai estacionar do meu lado, esperando que monte nela.

Para não trincar a cabeça durante a noite, durmo com um protetor bucal, igualzinho a lutador de boxe. E para fechar com chave de ouro meu dia, quando eu boto a cabeça no travesseiro, me imagino uma cruza de Mike Tyson com Maga Patalógica.

Alô produção! Ilumina eu que estou à beira do nocaute.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Bronzeamento sentimental

Um espectro dele seguia suas mulheres, admirando-as no banheiro, assobiando no carro a caminho do trabalho, a última fazia uma careta bonita enquanto dirigia. Ou na aula de yoga, de ponta cabeça. Na frente do espelho, espremendo espinhas.  Na manicure, cheia de dúvidas escolhendo esmalte.
 
Quando o relacionamento acabava, o espectro apaixonado seguia com a sua musa. Até que uma nova paixão surgia, um novo espectro descolava-se e se perdia. E assim, ele foi ficando cada vez mais transparente. Chegou o dia em que foi possível ler um livro de letras miúdas, através dele.
 
Fugiu para uma ilha no Caribe. Na viagem, notou que nenhum dos espectros delas o seguia. Através de relacionamentos, conheceu profundamente a solidão. Revoltado, abriu uma clínica de bronzeamento artificial. Hoje só atende gente transparente. Tem dois cachorros ótimos, que por via das dúvidas, leva sempre na coleira para que nada mais se perca por aí.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Muquiada

Compartimenta, é o que aprendi a repetir para mim toda vez que algo me chateia ou magoa. Guarda num canto, depois pensa no assunto, e segue para outra. É útil para tocar o dia a dia. Mas quando espreito, constato-me um grandessíssimo muquifo.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fragmentos de dicionário particular: melancolia

Da palavra que leva açúcar em si, é adoçar as lembranças a ponto de querer devorá-las. Querer mais do que é menos.