segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sou caipira, pirapora

Cafunga baixinho num rincão da minha alma um caipira matuto. Ele pede bença e se aboleta. É quando viola risca ou voz canta a terra e coração.  Numa gostança de mato, causos e bulé de café fumegando no fogão de lenha. Pingos d´água querem correr dos olhos. 

A querência comovida é melancolia da pureza que só caipira tem. Eu que sempre fui caipira da cidade bebo de Tonico e Tinoco, Catulo da Paixão Cearense, Pena Branca e Xavantinho, Inezita, Rolando Boldrin, tantos outros. E João Pacífico.

Ah! João lembra meu avô, que partiu antes do combinado. Seu jeito de falar, piadista, simples mas tão doce, cabelinhos ajeitados para trás.

- Neto de um burro - ele ralhava quando a gritaria dos meus irmãos atrapalhava a calmaria da tarde.

João Pacífico tocava o músico. Não sabia tocar instrumento, mas compunha como só com o auxílio de um violeiro que ele instruía. Meu avô tocava minha mãe. Ainda moleca, ela ganhou um acordeon de madrepérola dele, comprado com muito esforço. Um dos instrumentos mais lindos que já vi. E minha mãe virou o MP3 dele. Era só visita chegar, a menina tinha que mostrar o talento que ele estufava. Por conta da paixão do meu avô por João Pacífico, minha mãe também ganhou nome da cabloca mais sacana da música caipira . A famosa Cabloca Teresa. 

Talvez essa pequena homenagem tenha marcado em mim esse amor pela música da terra. E sempre que escuto uma toada caipira, aperta. Talvez porque simplicidade não é coisa pequena para caber fácil no peito.








terça-feira, 24 de agosto de 2010

O relógio do meu avô

Meu pai, todo dia, pela manhã e tarde, dá corda ao relógio de bolso que foi do seu pai. Espio seu ritual, sentado em sua mesa de trabalho. O brilho da prata restaurada, luxo que um ex-pedreiro pode adquirir. O barulho das engrenagens solicitadas.

E é a minha alma que pulsa comovida. Porque ao coração também se dá corda, enlaçando ternura e admiração que tempo de relógio algum pode arrefecer.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quando balada rima com roubada

Desconjurei na última balada. Um jazz descolado. Som sensacional. Vinho bom. Amigos queridos. Mas barbudos mil.  Gente requebrando até até o chão, como uma roda Exú. Propaganda de festa na PUC. Papo furado político. Oh, god! O ápice foi a garota de poloina vermelha. Se o esquadrão da moda fizesse uma parada ali, um camburão não ia ser suficiente.

E eu só pensava, preciso detetizar minha alma bicho-grilo que insiste em me atrair a esses lugares. Sai Vila Madalena, entra Vila Olímpia. Ou seriam sinais da idade?

Como diz um amigo, vou terminar fazendo balada no tai-chi-chuan da terceira idade do SESC (com direito a estacionamento de andador).

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Muitas perguntas

Quantos vestidos novos cabem no armário repleto de semi-novos? Quantas mudanças fazem a revolução? Quantas andorinhas são necessárias para derrubar um avião?

O problema dos rótulos é que toda e qualquer mudança que se faça no produto precisa ser muito evidente para que as pessoas percebam. Ela tem que gritar colorida na embalagem. E qualquer indício do produto antigo basta para que chutem o pau que mantém sua tão desejada mudança.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lenineando em horas invertidas


Tudo parece mal. Somente aceitar, é normal. Que a vida é uma miragem. E o tempo exige pressa. Sem esperar a cura da dor.

Adianto o meu relógio. Na paz da solidão, ainda quero estar amada. Saudade de um tempo não vivido. Porque a vida é tão rara.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Eu podia estar matando...


As perebas na alma ainda não estão completamente curadas. Mas ninguém mais tem a caridade (ou o saco) de perguntar se elas coçam ou não. Não sou a Amy Winehouse, não canto como ela, mas tenho recaídas. Principalmente em noites geladas de segunda-feira. É a fase mais temida do rehab. Lamber as feridas muito só, ainda que algumas não alcance.

Eu podia estar matando cachorro a grito, ocupando as linhas do CVV. Sugestão da caixa do supermercado: plantas são ótimas para conversar. A mulher tinha cara de pirada. Desconsiderei aparências. Considerei um ótimo procedimento para não afastar os amigos que ainda me emprestam os ouvidos. E me achando a menina do dedo verde, carreguei esbaforida vasos e vasos para casa.

Felizmente, a pimenteira e o bambuzal, meus interlocutores preferidos, ainda não ousaram me contradizer. E basta eu abrir a boca que o adubo de ambos está garantido. E bambu dá uma rima boa...

domingo, 1 de agosto de 2010

Pouco é muito para ser feliz

Faxina na casa revirada de amigos, samba na beira da pia, na frente do espelho, uma cerveja, várias geladas. Ficar pensando melhor. Sol na varanda, pimenteira brilha. E eu olhando a vida sorrir para mim.

Felicidade clandestina é... batom com brinquedos

Beijar o sábado com batom vermelho. Sorrir sob o sol de sapato novo e amiga velha. Abraçar a tarde brincando por horas na loja de brinquedos mais linda do bairro. Descobrir que toda mulher precisa manter uma caixa de maquiagem ao lado de uma caixa de brinquedos para ser feliz.