Saudade é quando a gente não sabe se lembra ou se inventa. E é com saudades que lembro que foram em sábados compridos ou dias de férias ensolaradas que eu aprendi a me apaixonar pelo samba. Eu e meu avô sentados nas cadeiras de praia espalhadas na varanda da chácara. Vendo o sol se alaranjar no poente, ouvindo Jair Rodrigues cantando samba canção.
Num desses dias, também comecei a sofrer com o samba. O telefone interrompeu a audiência de serestas com a notícia que meu tio-avô morreu. Depois disso, naquela tarde, não teve piada, meu avô não contou história repetida, não deu risada, não me puxou os pêlos do braço chamando de neta de um burro.
Com os olhinhos cheios d´água é que meu avô acabou de ouvir a fita cassete do Jair, no radinho Panasonic. Relembrou uma ou duas histórias do irmão recém-falecido e foi se deitar mais cedo em quietude enlutada. Foi novidade assustadora para mim. Ainda bem criança, assisti ali paralisada nascer uma saudade daquelas mais doloridas que só a morte consegue criar.
E assim como a saudade inventa essas tardes, inventa outras nostalgias bonitas, quando escuto Jair Rodrigues, Cartola, Nelson Cavaquinho e tantos outros sambistas. É tanta coisa que a saudade inventa, enfeita, mistura da vida da gente - amigos, gente que se foi, momentos, amores, alegrias - que chego não me importar que doa tanto.
Para sentir saudade é preciso ter coragem. Para ouvir um samba é preciso lembrar de você meu avô que me ensinou essas enormes saudades que eu sinto hoje.
Para vô Acácio, essa música que fala de um cara incrível como ele. Mais que sua neta, eu para sempre vou ficar sua fã:
Naquela mesa
Sergio Bittencourt
Sergio Bittencourt
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Eu choro essa música desde que me lembro por gente. Meu pai está vivo, mas eu antecipo que a dor vai ser assimzinha.
ResponderExcluirE que linda essa saudade do seu avô <3