sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não me engana que eu gosto

Talvez eu morra hoje. Quem pensa nisso ao acordar? Tão óbvio, mas difícil de acreditar. Mais provável a certeza de cometer um homicídio quando é o cliente cobrando, funcionário aprontando, fechamento chegando e a geladeira pifada de novo.

Ai, se eu morro hoje ia ser uma merda. É uma idéia mais recorrente, nos finais do dia, ou quando a gente se pega enlouquecendo com uma fechada na rua, um trabalho mal feito, uma conversa indesejável.

Nem as aparências deveriam enganar. Essa vida é coleção especial de marca chique para loja de departamento. A gente acredita que está arrasando comprando aquela peça por precinho aceitável em 12 vezes no cartão sem juros. Mas desconjura logo depois da primeira lavada.

Nem a marca chique, nem as lojas Marisa deveriam ter tanto poder de me fazer feliz. Nem o playboy que me fecha, nem o cliente que me xinga poderiam me fazer tão infeliz. Por que não vou levar nada disso, quando eu bater as botas. Óbvio, mas quem pensa nisso ao surtar?

Todo ser humano quer ser feliz e parar de sofrer. Toda vez que escuto a máxima budista, complemento mentalmente com minha mente intoxicada: ser feliz, parar de sofrer e perder 5 quilos. E embora todas as minhas ações sejam orientadas para isso, vira e mexe me entupo de chocolate, raiva, apego e egoísmo.

A gente se engana que ainda vai ter todo o tempo do mundo para ser feliz, a precinhos módicos, sem muito esforço. Mas essa ilusão não encara uma ensaboada de sabedoria sem desfazer.

Talvez eu morra hoje. E pelo menos talvez possa ter feito algum bem a alguém lembrando que também esse pode ser seu último minuto. Talvez eu tenha feito alguém feliz por um minuto.

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