Orgulhosa que estava com a pipa. Era de plástico, com uma linda boneca desenhada. E uma rabiola enorme de tiras plásticas coloridas. Corria no quintal para empinar o brinquedo. Mas me interessava mais ouvir o plástico do rabo colorido arrastando nas lajotas verdes.
Assistindo aquele sem fim de corridas sem vôo, meu avô cortou a rabiola. Sem o membro desproporcional, ele me mostrou orgulhoso a pipa voar alto. Eu vi minha pipa, lá no alto, bem longe de mim tão pequena e presa ao chão. Chorei, gritei.
Como castigo, fiquei sem almoço e fui mandada para o quarto. Ali presa, debrucei-me na janela para espiar outras pipas no céu. Encarapitada perigosamente no segundo andar da casa, fui surpreendida pela empregada, que lavava roupa no quintal. Negra que era, empalideceu e gritou: acode que a menina vai pular lá de cima.
Nesse dia, eu quase aprendi que tem coisa feita para voar para longe da gente, já que se for coisa querida, a gente se amarra pesadamente como a minha rabiola. Pois depois dos berros, em pouco tempo, ganhei a atenção de olhos assustados, o almoço e a promessa de nova e gigantesca rabiola.
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