quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mágica imperfeita na manhã de domingo

Domingo, um pobre senhor me abordou, enquanto dava uma voltinha pelas ruas do bairro. Sua história: quatro filhos, mora longe, aluguel, sem emprego, camelô eventual, quando sobra para comprar mercadoria. Mal tinha dentes, apesar de pouco mais de 40 anos.

Pedia nas ruas para se manter. Eu sequer tinha bolsos para sacar-lhe uma moeda. Mas não nego conversa a ninguém. E ele me nocauteou em poucos minutos, dizendo que, apesar de tudo, agradecia todo dia por estar vivo e sorria escancarado.

Ao final, me agradeceu pela conversa. Sacou uma embalagem com duas balas de coco, uma meio mordida, e me ofereceu. Provavelmente, acabara de ganhar de alguém que saía do mercado ao lado. Me espantei, não queria aceitar o pouco que ele tinha. Mas ele insistiu dizendo que eu merecia por dar-lhe atenção.

Peguei a bala meio mordida. Disse que voltaria depois com algum que pudesse lhe dar. Saí desnorteada com tanta beleza. Não voltei. Voltei para minha vidinha de curtição do domingo. Egoísta, simplesmente, esqueci, e perdi a oportunidade de retribuir à doçura deste homem. 

Eu, que espero tanto que a mágica da vida aconteça, quando fui chamada ao palco para auxiliar o mágico, simplesmente deixei o teatro.

2 comentários:

  1. A mágica aconteceu.. olhou para o próximo, cedeu o conforto do desabafo e ofereceu-lhe o sorriso da felicidade clandestina.
    !!!
    Cafi

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  2. Mas podia ser melhor, né? Mas sou egoísta.

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