terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um amor que empinou em lírica

Uma franja flutuante dançou no ar. Delicadamente, estendeu-se riscando a paisagem na janela. Ela identificou uma longa rabiola. Aproximou-se e esticou a mão para tocá-la. Mas por instantes, parou. A rabiola era poética. Pessoa, Bandeira, Vinícius em tiras de páginas de livros desfigurados.

Puxou o longo rabo de palavras que não completavam versos. Mas como um ponto final mal colocado, a linha rebentou. E ficou anônimo o autor revestia a pipa que jazeu enroscada no telhado.

Correu para rua embolando nas mãos a lírica despedaçada. E o rapaz, que preparava para decolar outro exemplar literário na calçada em frente, arregalou os olhos. As palavras, que se amontoavam nas mãos, sufocavam no coração acelerado. A imagem de livros dilacerados congelava a alma dela.

De onde você matou essas páginas, ela balbuciou. Encontrei no lixo, e apontou uma mochila cheia de livros velhos de capa dura. Ela tentou retrucar a frase, mas ele emendou em seguida, não leio, então coloco palavra para voar, que elas encontrem melhor destino que um livro sem gente para admirar.

Em troca dos livros, ela o ensinou ler. E a parceria, rendeu produção literária. As obras são o mais velho Manuel, por Bandeira, o menino do meio Fernando, por Pessoa e aguardam a pequena Clarice, que apesar de não ser poeta, é autora que dispensa apresentação.

Este conto é uma pequena reverência à minha xará Fina Flor que nos presenteou com uma imagem linda de seus sonhos em seu blog. Juju, obrigada e desculpe o aproveitamento onírico. Seu sonho me perseguiu e foi o melhor que pude fazer para me livrar dele.

6 comentários:

  1. Juju, caraca que texto o teu, Nota 10 quero uma reverência tb pro vida secreta.
    Solta essa inspiração ai vai.

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  2. Puxa Paulinho, obrigada! Eu adoraria escrever para o Vida Secreta. Posso?
    Um beijo!

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  3. Opa Ju, você pode tudo.
    No momento, demos uma parada nos contos, isso porque pretendemos em breve criar um blog só de contos e estamos de certa forma não desperdiçando cartucho, entende?! Se tiver interesse, em breve entro em contato, quando o novo projeto estiver no ar, ok?!
    Guarda a bala na agulha, flw
    Bju

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  4. Nooooossa, seria um luxo. Vou guardando as balas.
    Beijoca

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  5. Gente, que lindoooo!

    Eu tava off esses dias, mas dei uma lidinha rápida no seu conto.Agora vim ler com mais cuidado.

    Adorei o título!

    Lindo, lindo mesmo o conto!

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  6. Obrigada Juju pela inspiração.
    Feliz 2011!!

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