terça-feira, 5 de outubro de 2010

Viver é piscar, morrer é só hipótese




"- A vida da gente, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.

[...] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela ultima vez e morre.

_ E depois que morre? – perguntou Visconde.

_ Depois que morre vira hipótese. É ou não é?"

[Monteiro Lobato, excerto de Memórias da Emília (1936)]


Texto resgastado depois de uma visita emocionante à Praça das Palavras do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Vale a pena para rir, chorar e se colocar a pensar sobre as piscadas e hipóteses da vida.








Um comentário: