quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O portão

O portão da casa da minha avó era um pouco mais alto que eu-menina, arrastando boneca. Quando a noite se pintava de café com leite, diariamente, era proferida a pergunta solene: alguém já fechou o portão? Enquanto um se encarregava da medida, todos na sala ouviam o passar da corrente, quase sem respirar, até o cadeado pender num baque entre as grades. 

Hoje, são tempos de portões automáticos, acionados remotamente, encerrados em voltas entre lençóis ou trancas de Rivotril. Memória é arquipélago. Fiquei nadando em volta daquele portão, depois de um dia longo que parecia não terminar. E eu voltei àquele acerto de contas cotidiano que encerrava e reabria novo dia. Proteção nada ingênua, que minhas noites de insônia vêm ensinando a saudar.


2 comentários: