O portão da casa da minha avó era um pouco mais alto que eu-menina, arrastando boneca. Quando a noite se pintava de café com leite, diariamente, era proferida a pergunta solene: alguém já fechou o portão? Enquanto um se encarregava da medida, todos na sala ouviam o passar da corrente, quase sem respirar, até o cadeado pender num baque entre as grades.
Hoje, são tempos de portões automáticos, acionados remotamente, encerrados em voltas entre lençóis ou trancas de Rivotril. Memória é arquipélago. Fiquei nadando em volta daquele portão, depois de um dia longo que parecia não terminar. E eu voltei àquele acerto de contas cotidiano que encerrava e reabria novo dia. Proteção nada ingênua, que minhas noites de insônia vêm ensinando a saudar.
estava com saudades...
ResponderExcluirBorboleta, saudades dos vôos flanados, mas a vida anda exigindo mergulhos.
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