segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Da escrita de escafandrista


Escreve quem precisa desvencilhar-se de si. É esgotar perguntas sem respostas pelo cansaço de organizar palavras.
É estiolar pensamentos compulsivos. Sufocar ilusões em palavras daninhas. É podar a planta para que o caule torne-se tenro e as folhas vigorosas. Jardinar a mente e florescer a alma.
É arqueologia da vida, escavando a poesia soterrada por eras dia a dia. Porque, as vezes, é preciso se desenterrar para não virar um dinossauro..
Começa como sobrevivência. Sem teorias, a cura é poesia. É a válvula que precede o escape. A salvo o autor, a escrita está livre para a literatura.
É fazer despacho de palavras, na encruzilhada de parágrafos. É distribuir oferendas de frases. Traz de volta a pessoa amada. Nesse caso, o próprio autor.
Escrever é transbordar a alma. Transbordo com a violência de cheias de fim da tempestade. Não cabe em comportas de fingimento.

Sobram os leitos da prosa débil. O seu percurso irriga campos e busca desaguar em mares de calmaria. O percurso é cumprido por navegantes que se arriscam em águas turvas.

Escrevo para que eu escute a música que toca aqui dentro. E para que talvez lá fora, alguém também escute. E quem sabe até cante comigo, me ajudando a desvendar trechos da letra que não entendo...

Escrevo como quem luta para preservar a fonte cristalina ameaçada pelo desejo de esgotar o ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário