terça-feira, 14 de abril de 2015

Tira-manchas

Passei bons quartos de hora do domingo tirando manchas de vinho de uma toalha branca. Ela aguardava há semanas minha disposição. Tanta mancha para tirar e pouca solução que resolva.

Palavras cortantes sempre carreguei nos bolsos. Enquanto rasgavam o outro, desnudavam também as pelancas horrorosas da minha alma. 

Passaria muito tempo costurando aquilo que picotei. Não haveria linha para tanto remendo. Nem água sanitária que apagasse todos os erros.

É duro enxergar a porta e não achar a saída para os meus erros. Ver os defeitos em mim e apontar nos outros. Mas tô tentando. 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Puxadinho do meu coração

Ainda acentuo as ideias. Sou apegada ao trema. Agora, travessão caiu em desuso. Dois pontos quebra o tal fluxo do texto. Não suporto as mudanças em algo que já considero perfeito. É como permitir plásticas numa mulher linda. Mas essas foram as descobertas chocantes da minha ida a um encontro de aspirantes a escritores. Mas eu não sou Saramago. Ah! Então meu texto é clássico.

Comecei a dar aulas num curso de alfabetização de adultos. Digo de boca cheia aos meus alunos que "se enamorem das palavras, contemplem suas sílabas, aproveitem seus sons". E saboreio a delícia de ajudar alguém a escrever o próprio nome, vislumbrando milhares de palavras que dali virão. Ou ensinar-lhes o significado de uma nova palavra.

Sou chamada de professora. Um novo eu que descobri me transbordar de alegria, graças ao encanto da língua. Por que não me sinto à vontade com a frieza de ensinar matemática. O que me importa calcular quanto dinheiro falta ao João, quando podemos formar milhares de palavras com algumas letras?

De uma colega escritora, ouvi que só falta eu me assumir escritora. E logo que ela falou, minhas bochechas coraram como se eu estivesse presenciando um momento de fecundação. Não sei se meu eu escritora de fato vinga. Por que a minha escrita não tem arquitetura e nem gestação. É um mero puxadinho do meu coração.