quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Avós para visitar sempre

"a vó tinha um nome feio. hermantina. her-man-ti-na. só ela gostava, era uma homenagem a hermes da fonseca, aquele presidente de quem ninguém se lembra. nós, os netos (quase 40, imagina), a chamávamos de vó gorducha. eu nunca soube quem deu o apelido, mas fazia sentido. não que ela fosse gorda, mas tinha o colo mais gostoso desse mundo, daqueles que curam tristeza de criança melhor que sorvete".


Muito bom, colo de vó coletivo, ainda que virtual, aqui em http://ahvo.wordpress.com/

domingo, 6 de janeiro de 2013

Para presente

Começou empacotando um dedo mindinho. Como ele não fizera falta, experimentou guardar mais dois ou três dedos.

Embalava-os em embrulhos coloridos para, quem sabe um dia, a coragem rasgar cada um deles. Já tinha guardado em papel presente vários dedos, toda uma perna, quando pessoas notaram. Tarde demais.

Estava distribuída em caixas lindas, adornadas em fitas. Alguém ainda teve idéia . Depois de ser aproveitada para decoração de Natal, seus pacotes foram encaminhado para reciclagem.
 
Seria vacuidade? Não tinha certeza, afinal distribuiu a pessoas queridas pedaços. Nada grande que estorvasse. Uma piscada, um cheiro, um trejeito único. Mas ninguém confirma se os guardaram ou perderam por aí.

Só deixou recomendações para preservação de um pacote. À guisa de epitáfio, a embalagem do sorriso levava um pequenino cartão escrito em letra miúda: guarde, por que embalagens de presente e sorrisos nunca deveriam ser esquecidos, ainda mais quando abertos juntos.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Tal qual uma Playboy

Arrancou a roupa das palavras, para mostrar o seio nu do pensamento. Um bico rosado apareceu da poesia, embora tentasse esconder em vão a teta murcha de idéias incertas.

Por que a palavra escrita é sem vergonha. Saiu de braço dado mostrando a bunda.