terça-feira, 29 de junho de 2010

Invertida sobre a cabeça

Alcancei uma pequena conquista muito desejada. Finalmente, passei a praticar SwáSthya Yôga. Há alguns meses venho frequentando aulas de preparo para a técnica. Ontem, finalmente, fiz minha primeira aula no novo nível de Yôga, com direito à calorosa recepção do professor e alunos.

SwáSthya, em sânscrito, língua morta da Índia, significa entre outras coisas auto-suficiência, saúde, bem-estar, conforto e satisfação. Não nada há nada que eu deseje mais que SwáSthya.

As atividades físicas nas aulas, geralmente, terminam em treinamento da invertida sobre a cabeça.  Mais ou menos como plantar bananeira com cocoruto no solo. É uma posisção que busca irrigar o cérebro, bastante usada em meditações.

Venho vivendo há meses com a cabeça invertida. Assim como nas aulas, já tenho conseguido me equilibrar, algo que nunca sonhei anteriormente. Um grande fluxo de oxigênio, ainda entrecortado por muitos desequilíbrios. Importa praticar e praticar, até que a inversão se torne uma posição confortável de se colocar no mundo.

SwáSthya a todos!


P.S.: Só para registrar, parabéns Pulguenta querida! Nesse dia e todos os outros, me alegra muito pensar em você e ser sua amiga. Te amo!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

De despropósitos e propósitos

Desde muito cedo, viver não me foi natural. Sem motivos, sem pobreza, defeitos, feiúra ou desprezo que justificasse. Uma tristeza desavisada desabava em meio a bonecas, desenhos, aulas, brigas, paqueras, almoços, festinhas. E a sessão da tarde era o exercício de fenecer outro dia.

Não vim ao mundo a passeio, vim para trabalho de campo, mas sem conhecer os objetivos da pesquisa.

Dos despropósitos da vida escorrem propósitos. Mas não há meio de permitir-se respirar sem acreditar que, ainda que em terras arrasadas, a natureza por si preserva capacidade de recuperação.

Reabrir as janelas do mundo

O mundo é do tamanho das nossas possibilidades. Na medida que elas encolhem, o planeta cabe inteiro em uma pequena cidade perdida na alma. Para conquistar fronteiras, vou sair rodar o mundo.

Espero abandonar em além-mar  a cidade morta em que me perco, e reencontrar novos territórios de possibilidades. Começam os preparativos...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Confissões sobre a Copa

Assistir jogos da Copa é cumprir o protocolo para frente Brasil, Salve a Seleção. É como transar com aquele cara que você não está mais tão afim.

Sem gol durante a partida, é pior ainda, transar e não gozar. Dá um sono. Mas, malditas vuvuzelas nos despertam no pesadelo. Para piorar, achava que o Cristiano Ronaldo era mais gatinho.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Abraçando o capeta

Quando morre alguém querido ou significativo ao mundo, listo de imediato um possível obituário de pessoas que deveriam substituir ou compensar a perda. Um rol de vasos ruins -  canalhas, políticos, assassinos, ladrões e toda gente do mal próxima ou distante-, que, na minha cruel vaidade, deveriam estar a sete palmos adubando a terra.

O último que mereceu meu obituário foi José Saramago. Comentei para algumas pessoas que ele deveria ter cedido a vez para fulano e sicrano. Ganhei o troféu capeta em forma de mocinha. Tentaram me convencer a abandonar esse pensamento soturno, pois só demonstra que eu sou infeliz. Achava que só demonstrava o que eu penso.

Juro que não desejo a morte de ninguém, só penso que a fila deveria ser melhor organizada por alguém mais criterioso, mesmo que a próxima deva ser eu.  Daí me vi sozinha nessa. Só eu penso isso? Só eu declaro minha raiva?

Uma amiga me sugeriu uma caixa do grito. Uma caixa de sapatos, cheia de jornal dentro, com um rolo daqueles de papel de cozinha para fora. Daí você grita dentro, até passar a raiva. Vou usar logo uma caixa de geladeira e, provavelmente, vou ficar afônica uns dois meses. Pois do jeito que vai, logo vou abraçar o capeta e dançar rebolation.

P.S.: Saramago, perdoe-me por meus grunhidos, o mundo ficou mais imbecil sem sua lucidez.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Por uma vida barata

Invejava a inconsciência das baratas. Satisfazer-se em ser somente corpo e carapaça. Não mais sentir. Porque sentir é câncer, que toma a alma em metástase. E o tratamento é irônico de tão ruim quanto a doença, matar células e  todo entorno.

Maquiava os olhos. Não suportaria enxergar o mundo sem cílios emplastrados de rímel. Era somente seu jeito de se fazer barata. Como as antenas inquietas do inseto, pestanejava cílios marcados para descobrir o mundo.

Descobriu homens, mulheres, crianças, cidades, mares, camas, paisagens. Depois de centenas de tubos de rímel, encontrou bem na sua cozinha uma barata que surgiu da obra do apartamento vizinho. Finalmente, passou noites tranquilas em frente ao espelho contemplando a companheira.

Por milhões de anos, a barata desenvolveu sua estupidez esculpida na capacidade insuperável de sobrevivência. Mas ela não aprendeu. Encerrou em veneno com bolachas. Foi encontrada, cercada por dezenas de baratas. Finalmente, seu barato, era somente um corpo, sem carapaça.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Band aid

Casca de ferida na alma. Não resvale. Se cutucar, sangra. Quinas de situações, sentimentos ou lembranças colocam à prova a cura. Ainda quero correr livre de bandagens, exibindo orgulhosas cicatrizes.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Lispectoreando o Msn: Não mijem na minha piscina

Um bate-papo teclado, no fim de um dia gelado:

Juliana diz:
Ai, voltei ao tédio pasmacento, alguma sugestão de cura? Acho q vou pular de para-quedas.

Marta diz:
Ah Ju! Mas, então investe num projeto melhor. Já te falei.

Juliana diz:
Tentando! Fazendo de tudo. Mas também é ressaca pós um enorme trabalho.

Marta diz:
Hum. E a sua iniciação no budismo?

Juliana diz:
Mudei de idéia por enquanto.

Marta diz:
Eita. Então, vc deve estar mais calma

Juliana diz:
Estou, o tédio é o sinal disso, bem mais calma. Incrivelmente refeita. Nem acredito q um dia o novo eu caiu na minha cabeça escovando os dentes.

Marta diz:
Foi escovando os dentes? Mesmo? Acho poético.

Juliana diz:
Foi, olhei no espelho e falei: chega de choramingo! Que merda, vc está uma chata. Vc nem queria casar sua louca. Aproveite a sua liberdade, vc ganhou uma nova vida. Vc está livre. E fiquei feliz. 

(Silêncio ou falta de letrinhas na tela)

Juliana diz:
Foi assim.

Juliana diz:
Juro.

Marta diz:
Bem lispectoreano.

Sob a concordância da interlocutora dessa conversa, esse blog tem a profundidade de uma piscina infantil, daquelas de plástico de jardim. Mesmo assim eu mergulho de cabeça e quase me afogo. Quem quiser mergulhar junto, cuidado, é raso. Peço somente, não façam xixi na água.

Jardinando palavras

Escrever é estiolar pensamentos compulsivos. Sufocar ilusões em palavras daninhas. É podar a planta para que o caule torne-se tenro e as folhas vigorosas. Jardinar a mente e florescer a alma. 

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pega na vuvuzela e balança para ver se quebra

As cornetas despertam o mais selvagem do ser humano. Cidadãos pacatos passam a temporada de Copa buzinando freneticamente, como um pterodáctilo a reclamar de prisão de ventre. E outros cidadãos no limiar de homicidas, sobrevivem à temporada futebolística querendo guardar as vuvuzelas no mais íntimo dos buzinadores. Se possível, até a próxima Copa.

domingo, 13 de junho de 2010

Batismo de mocinha

Um sábado gelado começou aquecido pelo batismo de uma menininha muito querida. Já mocinha decidiu se batizar. Foi simples mas emocionante. Mais ainda porque me via como aquelas crianças, algumas levadas nos braços outras já grandinhas decididas a renascer na fé.

Esse blog começou com a morte de um sonho, esse era o meu perfil inicial:


Aventuras de uma mocinha que se reconstrói, após o mocinho virar vilão, e largar um casamento que não aconteceu, uma casinha em que já vivíamos, muitos sonhos que não aconteceram, enfim, terapia de mocinha com muitas frufruzices, que ninguém é de ferro.

Minha reconstrução nunca terminará, pois decidi ser obra incompleta, sem permitir novamente que alguém tente enquadrar. Sem último suspiro, a morte está completa.

Durante a cerimônia de batizado, pedimos a Deus sabedoria, pois tudo mais na vida é resultado dela. Complemento pedindo compaixão, para que nossa capacidade de amar nunca se esgote. E Mãe Maria, sussurra em meus ouvidos: deixe estar.

Amém.

P.S.: Só para lembrar um dia, quem sabe ela tenha maturidade para ler essa confusão toda, Zizi te amo, minha melhor amiga de 10 anos!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Olhar de nascença

Achava que as coisas não deviam existir quando a gente não está lá. Só deviam nascer quando botássemos os olhos nelas. Ansiava olhar o mundo para gerar o frescor de sua beleza. E ela mesma não nascia, pois ninguém verdadeiramente jamais a enxergara.

Obs.: Pensamento resgatado em dias de exaustão e ansiedade laboral. Saudades de me refestelar por aqui. Alguém completa meus pensamentos, socorro, que eu tenho que completar formulários.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Zécutiva desacreditando ISO tudo

Primeiro dia de auditoria de acreditação na empresa, visita de um órgão super hiper mega importante, que bota selinho em tudo quanto é tralha não chinesa (se bem que esse selo eles já devem ter falsificado também).

E para alguém acreditar em alguém, dá um trabalho doido. Uma semana de troca de acareações, acusações, juras falsas. E eu coordeno o ônus da prova.

Já que não tenho uma arma, tento estourar os tímpanos com o rádio do bat-móvel em volume desaconselhável à audição humana, a caminho do abate.

domingo, 6 de junho de 2010

Aspirador de só

O mineiro é solidário no câncer, o paulistano na solidão. Quando a vizinha do apartamento acima passa aspirador de pó no quarto às 2:30 h da manhã do sábado, tenho certeza que ela queria estar segurando algo muito mais interessante que o cano do equipamento.

sábado, 5 de junho de 2010

Ventríloca

No dia, a idéia caiu-lhe sobre a cabeça como se o teto desabasse. Escovava os dentes, após acordar. Olhou-se no espelho. Finalmente, reconhecia natureza na moldura, sem ecos de seu grito sufocado.

Recolheu do azulejo gelado os pedaços abortados, na noite anterior. Limpou o máximo que era possível limpar. E devolveu tudo para si, sem esforço. Tudo o que não pariu. Desabortou.

Mesmo sem parto, finalmente partiu. Foi equilibrando-se sobre muros. Não importava o início e o fim. Tinha certeza que, em breve, esqueceria onde tudo começara. Mas se acabasse agora, seria falando por seu próprio ventre. Plena.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

ZÉCUTIVA e dois pesos e uma medida

Na televisão do restaurante, o telejornal mostra um "poliça" enchendo de porrada dois supostos meliantes, em uma delegacia de alguma esquina brasileira. Uma voz se levanta, na mesa, entre os colegas de trabalho almoçando:

- Não sei o que eles fizeram, mas ladrão tem mais é que apanhar. No mundo inteiro, malandro toma chicotada.

Eu engasgo com meu suco e não me contenho:

- Se derem a um brucutu, em nome do Estado, o poder de bater em qualquer um, ainda mais sem julgamento prévio, eu também quero! Vou baixar a mão em quem eu entender, em nome da ordem e da iluminação humana. Aliás, começando por você, que não me entregou o relatório que vou ter que terminar no feriadão.

"Ohmodeo, salva dessa angústia e me descola um Pelourinho!"

Obs.: Por que a gente dá porrada, senta o cacete, baixa o pau, mas não diz que vai dar uma bucetada? Essa língua é mesmo Pátria. Só dá para ficar puta.

Obs.: E quem sabe um dia enriqueço, fico mais linda, lesa e loura e saio por aí dando uma diva louca e quebrando tudo. Adooooro! Momento mona louca.]


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Aos Excelentíssimos canalhas desse mundão

Aos canalhas, desejo apenas impotência sexual crônica, sem tomar no rabo, pois obviamente que eles adorariam.

Dedico a doce música abaixo para o inspirador desse blog, que alimenta o prazer de me assombrar de tempos em tempos. Rancor lupiciniano, guri, não tem melhor para extirpar veneno da vísceras.

Activia e Jonhy Walker para você, psicótico!





Judiaria
Lupicínio Rodrigues
Agora você vai ouvir aquilo que merece

As coisas ficam muito boas quando a gente esquece
Mas acontece que eu não esqueci a sua covardia
A sua ingratidão
A judiaria que você um dia
Fez pro coitadinho do meu coração
Essas palavras que eu estou lhe falando
Têm uma verdade pura, nua e crua
Eu estou lhe mostrando a porta da rua
Pra que vocês saia sem eu lhe bater
Já chega o tempo que eu fiquei sozinho
Que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando
Agora quando eu estou melhorando
Você me aparece pra me aborrecer

terça-feira, 1 de junho de 2010

Escrever

É esgotar perguntas sem respostas pelo cansaço de organizar palavras.

Barbie em coma

Walter Benjamin certamente teria muito o que escrever sobre a perda da aura das mulheres na era da sua reprodutibilidade técnica. Cópias em carne e silicone de peitos, bundas e bocas desprovidas de qualquer raridade. Um inconsciente visual canalha massacra manequins humanos.

(Viagens de um porco espinho carente).